21 de fevereiro de 2011

Suícidios na PSP

Um agente da PSP pôs anteontem, quinta-feira, termo à vida. Ontem, sexta-feira, foi a vez de um militar da GNR tentar fazê-lo. As associações alertam para a organização e pressão da profissão, que, mesmo indirectamente, acabam por se reflectir na vida pessoal dos elementos.

Tinha mais de 55 anos, estava à porta da pré-aposentação e nada fazia prever o desfecho. Uma vida familiar e financeira equilibrada, a normalidade no dia-a-dia da esquadra da PSP de Alverca, a arma à mão. Morreu na quinta-feira.

Um militar da GNR de Pombal, 50 anos, também usou ontem, sexta-feira, a arma de serviço contra si próprio. Os bombeiros conseguiram estabilizá-lo, está em estado grave no Hospital dos Covões, em Coimbra.

Dois casos em dois dias. Causas? Impossíveis de definir. Pertencem a cada um. Sabe-se que a maioria dos suicídios entre forças da ordem têm motivos passionais e financeiros. Causas que, acreditam as associações representativas da PSP e da GNR, são exacerbadas pelas condições de trabalho. Horários indefinidos, estruturas rígidas, alterações na carreira.

“É uma profissão de desgaste rápido”, diz Ana Rita Robalo, psicóloga que colabora com a Associação Sindical da Polícia de Segurança Pública (ASPP/PSP). “Muitas vezes, os agentes estão em funções de que não gostam” e que “não podem agir de qualquer maneira, estão sujeitos a directrizes, numa profissão rígida, com uma hierarquia rígida, sem margem de manobra”.

Somadas aos problemas pessoais que qualquer cidadão tem, estas condições podem facilitar o desespero. Mas a verdade é que não há estudos sobre o assunto e “não se consegue definir se são os problemas pessoais que levam às tensões no trabalho ou o contrário”.

“Poucos são os suicídios que têm causa directa na profissão”, garante Paulo Rodrigues, da ASPP/PSP. Mas há padrões que os diferenciam dos do resto da sociedade. O espaço de tempo entre a identificação dos primeiros sinais e a concretização “é muito curto”. E, geralmente, ao contrário do que acontece com outras profissões, os agentes são aconselhados a meter baixa em vez de ir trabalhar para distrair os problemas.

“O exercício profissional é muito exigente” a nível emocional e psicológico, diz Paulo Rodrigues. Mais a mais num sector em que se mantém “algum estigma relativamente” aos serviços de psicologia. “Os profissionais, sobretudo os mais antigos, entendem que ir ao psicólogo é ficar rotulado com problemas mentais. Preferem manter a rigidez e a firmeza e tentar controlar o problema”. Ora, numa profissão a envelhecer e numa sociedade cada vez mais exigente nas respostas policiais, a pressão aumenta. “Causa alguns problemas de confiança”.

Vidas sem horário

José Manageiro, da Associação Profissional da GNR, também alerta para as condições de trabalho. “Não há horários de referência, quem regula as pausas são as chefias e isso acaba em incompatibilidades familiares enormíssimas. A maior parte dos suicídios na GNR prende-se com motivos passionais, porque a instituição destrói a vida familiar”.

A mesma história da PSP, onde um fim-de-semana como o comum dos mortais só acontece de três em três meses e, com a falta de efectivos, nem sempre é cumprido, diz Paulo Rodrigues.

A GNR contabilizou seis suicídios em 2009, num universo de 23 mil pessoas. “É significativo, porque o comportamento de um elemento perante o cidadão não pode merecer qualquer dúvida sobre problemas psicológicos”.

José Manageiro lamenta que, numa “instituição militar muito rígida”, haja uma observação punitiva do comportamento dos elementos, mas não dos problemas. O próprio apoio psicológico só existe em Lisboa. Na PSP, há sete gabinetes pelo país, mas o diagnóstico é a falta prevenção. Em ambas as forças.

PSP
A evolução dos suicídio não indica uma tendência. Desde 1998, foram 39, entre anos sem nenhum e anos com cinco ou seis. Foi o caso de 2005, ano em que foram alteradas as regras de pré-aposentação.

Motivos e idades
São jovens na casa dos 30 anos com problemas passionais e agentes com mais de 50 e dificuldades financeiras.

Divórcio
O desgaste e a pressão profissionais também se reflectem na taxa de divórcio: entre as mulheres da PSP é de 14,3%. Entre os homens é de 4,7%, superior ao resto da sociedade.

GNR
Os casos não são muito falados, por receio de afectar a imagem da instituição, garante José Manageiro. Foram 12 em 2008 e seis em 2009. Não há dados mais recentes.


2010-07-10

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